sexta-feira, 2 de julho de 2010

Volta ao início


“Quero voltar ao início de tudo...” já dizia a canção do grupo Rebanhão. Se todos os que dizem amar a Deus quisessem mesmo isso, começariam a ler mais os evangelhos e descobririam o quanto estão distantes daquele início...

Pra começar, deixariam de ver o templo como local sagrado, pois os templos dos judeus não têm seu lugar na igreja que foi formada por Jesus, na sua morte e ressurreição.

Ele disse: “Derribai este templo, e em três dias o levantarei”¹. Isso falou Ele referindo-se ao templo do seu corpo, à sua própria morte e ressurreição.

As campanhas e sacrifícios seriam então banidos, pois o único sacrifício realmente eficaz foi o do Cordeiro de Deus. Só Deus pôde agradar a Deus. O padrão do sacrifício é divino, não humano. E a sua graça alcançou a toda a humanidade.

Os pastores e padres perderiam o seu lugar de reis, bem como deixariam de existir suas cadeiras especiais, pois estas foram adotadas nas primeiras catedrais, onde Cátedra significa o edifício que contém o trono do Bispo.

Jesus disse: “Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas”. ²

A idolatria do lugar deixaria de existir, posto que as primeiras catedrais construídas pelo cristianismo tenham sido construídas sobre os túmulos dos mártires. Os pagãos acreditavam que o lugar onde estes eram enterrados era santo³. O misticismo pagão veio para dentro do que nem mesmo deveria ter se tornado uma religião, isso a cerca de 500 anos.

Jesus disse: “Mulher, crê-me que a hora vem, em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai... Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem.” ³

Jesus mostra que o que importa realmente é a verdade do nosso coração, o que trazemos dentro. Se nossas ações são feitas em amor ou apenas para sermos vistos pelos homens...

Os rituais perdem todo o seu sentido.

A comunidade dos primeiros cristãos, como organismo vivo, edificava-se mutuamente. Sem rituais ou liturgias, todos participavam espontaneamente da reunião dos santos.* Creio que as reuniões informais que realizamos em nossos lares, com familiares e amigos, se aproxime muito da primitiva igreja.

Hoje, o que temos é a passividade do povo de Deus. Estes servem apenas como espectadores do espetáculo que chamamos culto.

É lhes dado apenas a ilusão da adoração, quando estes cantam em conjunto...
O discurso religioso, na sua monossemia, ou seja, no seu sentido único, é inquestionável, posto que a igreja veja seus líderes como “boca de Deus”, termo usado pela primeira vez por Calvino. Não é à toa que não é permitido questioná-los, principalmente durante o “culto”.

Jesus Cristo: Templo, Sacrifício e Sacerdote. No entanto, continuamos construindo templos, promovendo sacrifícios e elegendo sacerdotes.

É preciso mesmo uma “volta ao início de tudo... rever os conceitos, valores... reconstruir”

Rosana K. Bulgakov


1. João 2.19.
2. João 10.11
3. João 4.21,23
4.Viola, Frank A. Cristianismo Pagão. Origens das práticas de nossa igreja moderna.
5. ORLANDI, Eny Pulcinelli. O Discurso Religioso. In: A Linguagem e seu Funcionamento.

*I Co 14.26: Que fareis, pois, irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação.

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