terça-feira, 27 de abril de 2010

Meu irmão escravo



Nós resgatamos os judeus, nossos irmãos, que foram vendidos às nações, segundo nossas posses; e vós outra vez venderíeis a vossos irmãos, ou vender-se-iam a nós? Então se calaram, e não acharam que responder. Neemias 5.8

Neemias liderava a honrosa tarefa de reedificação dos muros de Jerusalém.
Tamanha era a vontade do povo de que Jerusalém fosse reedificada que o coração de todos estava inclinado a trabalhar¹.
É a alegria do propósito. Tanto é que mesmo sob grande ameaça do ataque dos inimigos, trabalhavam cingidos por um lado de suas armas e por outro de suas ferramentas, sem cessar!
Porém Neemias teve que se deparar com uma dura realidade contrastada ao entusiasmo da reedificação: a opressão que os nobres e magistrados exerciam sobre aqueles que voltaram do cativeiro.
Estes viam-se no direito de arrendarem suas terras e lucrarem excessivamente com o trabalho dos seus próprios irmãos. Não havia dinheiro suficiente nem mesmo para os impostos e estes miseráveis eram obrigados a tomar emprestado.
Neemias chama a atenção dos que dominavam sobre os ex-cativos e abre os seus olhos para a ironia do que vinha acontecendo: Resgatamos nossos irmãos para torná-los nossos escravos.
Alguma semelhança ao que vemos hoje em dia?
Quantos não foram conduzidos à igreja na promessa de serem libertos da escravidão do pecado e, ironicamente, se tornaram escravos da instituição?
Quantos não perderam aquela grande alegria da edificação por gratidão e, em troca, receberam o jugo do compromisso?
Nada mais é realizado pelo entusiasmo de se verem vidas alcançadas pelo Evangelho que liberta e nem pelo crescimento espiritual e intelectual da comunidade. Em vez disso, o amor a si mesmo de muitos líderes tem conduzido o rebanho por um caminho íngreme e pedregoso.
Oprime-se o rebanho. São lhes tiradas sua lã, sua gordura e até mesmo o seu pasto.
Imprime-se nele uma “gratidão” forçada, posto que foram tirados do lamaçal do pecado e agora tem a obrigação de contribuir e de tornar-se o sustento da “obra”, em detrimento do bem estar pessoal e familiar.
Ovelhas desgarradas cujos pastores apascentam-se a si mesmos.
Não há o que responder. Os nobres se calaram diante de Neemias. Infelizmente, em oposição ao que estes fizeram, hoje ouvimos muito o direito de resposta. Dá-se sempre um jeitinho de extorquir o rebanho usando-se até mesmo a Bíblia para justificativa própria.
Mas ainda há esperança. Se ali, num tempo em que a lei conduzia o discernimento de bem e mal nos corações do povo israelita, muito mais agora, quando conhecemos a Graça do nosso Senhor.
É preciso deixá-la nos governar a exemplo de Neemias.
Tamanha era sua inclinação para o bem do povo que este fora contagiado pelo mesmo intento.
É necessário crer que é o Senhor quem opera em nós tanto o querer como o realizar, e tudo o mais, a seu tempo, ficará edificado, se este for o propósito de Deus.
Não é preciso gritar. Não é preciso cobrar “gratidão”. Não é preciso escravizar quem fora uma vez por todas liberto.

Rosana Bulgakov


1 Neemias 4.6

domingo, 18 de abril de 2010

Mas era domingo


Lamento que por tantos anos não houvesse aberto os olhos!
Gostaria ter soltado da prisão a alma oprimida - mas era domingo! Dia de ir pra igreja.
Gostaria ter ficado mais algumas horas ao lado daquela amiga angustiada - mas era domingo! Não podia faltar ao "culto"!
Gostaria ter pego um violão e louvado ao Senhor junto aos meus familiares - mas era domingo! Devia buscar a Deus em primeiro lugar,o que pensava ser possível apenas na "igreja".
Gostaria ter feito aquela visita... mas era domingo! E durante a semana não tinha tempo pra isso, pois trabalhava.
Puxa... quanto bem deixei de fazer por ter que fazer o que achava que era o certo...
Ao passo que Jesus diz: "¹O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado".
Hoje entendo que também o domingo fora feito por causa do homem, e não o homem por causa do domingo... Ele é o Senhor não apenas do sábado, mas também do domingo e de todos os dias da semana.
Hoje compreendo que todos os dias e o dia inteiro sou confrontada a analisar o meu andar conforme o Evangelho.
Há quem diga: ²Seis dias há em que é mister trabalhar; nestes, pois, vinde para serdes curados, e não no dia de 'domingo', e assim se vai vivendo uma vida mesquinha, cujo propósito é definido em se ir à igreja aos domingos(alguns chamam de dízimo do tempo), e o resto da semana pra si mesmo, já que seu tempo é dividido em trabalho, escola, família...e igreja.
Mas o Evangelho mostra-me que não deve existir um dia específico para buscar a Deus.
Mostra-me que o buscar a Deus não se resume em ir à igreja.
Mostra-me que Jesus curou no templo, mas muito mais fora dele.
Ele mesmo falou: ³Pois eu vos digo que está aqui quem é maior do que o templo.
Hoje compreendo que negar-me essa necessidade psicológica de estar num templo por conta de uma visita, pode ser uma oportunidade maravilhosa de trazer o Evangelho.
Compreendo que um momento de lazer com amigos ou familiares pode ser um momento em que Deus falará ao meu coração muito mais alto e claro do que penso que Ele fale no púlpito de um templo.
Compreendo que Ele não estipulou hora e lugar para adorá-lo, mas me chama a adorá-lo em espírito e em verdade. É maravilhoso saber que isso posso fazer em qualquer lugar!
Não preciso ficar "zen", não preciso sair de mim, não preciso fechar os olhos e levantar as mãos se a minha vida for uma canção que o adore.

Rosana Bulgakov

1. Marcos 2.27
2. Lucas 13.14
3. Mateus 12:6

domingo, 4 de abril de 2010

Páscoa



¹Ele é a nossa páscoa...
Toda a Escritura me aponta o Verbo de Deus,
Cordeiro que a si mesmo entregou por toda a humanidade,
Assumindo dela a sua culpa,
Deliberadamente declarando por ela o seu amor
Deliberadamente salvando aqueles que se haviam perdido.
Ele também é o Pastor
Que dá a própria vida pelas ovelhas
E a todas conhece pelo nome
Ele conhece o pesar de cada uma delas.
Ele que no jardim suou gotas de sangue
Por toda a angústia que sentia no peito
E que pediu a seus amigos que ficassem com ele por ao menos uma hora
Mas estes o abandonaram...
Sim, ele conhece o abandono
Ele conhece o sofrimento
Ele não rejeita àquele que por ele chama...
Eu não mereço tanto amor
Não mereço seu perdão
Não mereço sua companhia
Mas Ele realmente não nos dá o que merecemos
Pois assim fazendo
Ninguém no mundo teria a chance de mudar o curso do seu caminhar.
Tudo o que Ele fez e que faz chamamos Graça
Sim, é esse favor imerecido que nos alimenta a alma
É a seiva que nos faz produzir frutos de bondade e misericórdia
Que põe-nos entre gente que precisa desse tempero do amor
Por isso ele nos chama ²“sal”
Que põe-nos entre gente mergulhada em escuridão
Por isso Ele nos chama ³“luz”
E é nesse caminho estreito que é o do amor
Que somos chamados para sermos como crianças.
Que a malícia não encontre em mim esconderijo
Que a maldade não faça em mim o seu ninho
Que a vingança jamais envenene o meu ser
E que o meu ser nunca deixe de ser ...
Seja eu mesma a singularidade do seu amor

Rosana K. Bulgakov

1. I Co 5. 7
2. Mt 5.13
3. Mt. 5.14

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